sábado, 5 de dezembro de 2015

Sem cigarros na paisagem.

A menina estava sentada, num balanço qualquer naquele labirinto em que estava perdida. Sem pensar, pegou um maço de cigarro que estava dentro do bolso da sua jaqueta. Fazia frio acentuado por um vento não muito forte. Ela usava botas de couro, com meias grossas que iam até o fim de sua coxa, onde começava sua jardineira simples. Seu isqueiro estava no bolso frontal da jardineira. Acendeu um cigarro e deu uma tragada. Suspirou. Sentiu o leve toque de outono em seu rosto, com as folhas caídas da árvore onde estava o balanço que estava sentada. E por alguns segundos ela pensou ter achado a paz, com o sol descendo, longe daquela hipocrisia estúpida das pessoas, que diziam “Ô, que bom Adalaine você conseguiu”, mas no fundo ela sabia o que aquelas palavras significavam para os amigos de seus pais, tios e tias, primos e primas. Que ela finalmente estava criando um “jeito” na vida. Ela nunca precisou de jeito algum, ela só queria ser ela, queria ir embora, sair desse lugar onde ficava rodeada de pessoas, mas continuava se sentir só, mais do que normal. Diziam que estariam sempre ao seu lado. O engraçado é que nunca se queixou, ficava quieta; na frente de muitos era criticada, mas ela sabia que aquilo seria passageiro, como foi o verão, como foi até aquele momento. Então, na surdina, ela era quem realmente queria ser. Autêntica. Heidegger diz que uma pessoa autêntica é solitária. Por mais que ela fosse, ainda conseguia achar felicidade em outras pessoas, o problema era se apegar a essas pessoas e depois elas desaparecerem. Ficou com medo de ser ela de novo, mas percebeu que aquilo era consequência da vida. E que apenas os verdadeiros ficam. Os que não fingem ser algo que não são.
Ela olhou para aquele cigarro entre seus dedos e pensou, não vou estragar essa paisagem com você, e pegou seu maço, e colocou o final do cigarro dentro dele, apagando. Observou aquele objeto e ficou pensando por quanto tempo aquilo foi seu “amigo” nas piores horas, e percebeu a metáfora, existem coisas que fazem nos proporcionam uma sensação de bem estar, mas acabam nos matando por dentro.
Esperou a fumaça terminar e colocou de novo no bolso da jaqueta. Como iria fazer para voltar? E se iria fazer? Estava tão bom, vendo as cores que o céu fazia naquela tarde, tons diferentes, como um Monet. Sorriu pensando naquilo, refletiu sobre o Monet ter pintado aqueles quadros exatamente para pessoas que não poderiam ver o que o mundo pode nos presentear. E olhar pelo menos três segundos, e lembrar da beleza ao nosso redor. Maldição são aqueles que não admiram e dizem ser perca de “tempo”. Mas Adalaine sabia que a arte ajudava mais que qualquer cigarro ou álcool do mundo.

(me desculpem pelo meses que fiquei sem postar)
Espero que tenham gostado!