A menina estava sentada, num balanço qualquer naquele
labirinto em que estava perdida. Sem pensar, pegou um maço de cigarro que
estava dentro do bolso da sua jaqueta. Fazia frio acentuado por um vento não
muito forte. Ela usava botas de couro, com meias grossas que iam até o fim de
sua coxa, onde começava sua jardineira simples. Seu isqueiro estava no bolso
frontal da jardineira. Acendeu um cigarro e deu uma tragada. Suspirou. Sentiu o
leve toque de outono em seu rosto, com as folhas caídas da árvore onde estava o
balanço que estava sentada. E por alguns segundos ela pensou ter achado a paz,
com o sol descendo, longe daquela hipocrisia estúpida das pessoas, que diziam
“Ô, que bom Adalaine você conseguiu”, mas no fundo ela sabia o que aquelas
palavras significavam para os amigos de seus pais, tios e tias, primos e
primas. Que ela finalmente estava criando um “jeito” na vida. Ela nunca
precisou de jeito algum, ela só queria ser ela, queria ir embora, sair desse
lugar onde ficava rodeada de pessoas, mas continuava se sentir só, mais do que
normal. Diziam que estariam sempre ao seu lado. O engraçado é que nunca se
queixou, ficava quieta; na frente de muitos era criticada, mas ela sabia que
aquilo seria passageiro, como foi o verão, como foi até aquele momento. Então,
na surdina, ela era quem realmente queria ser. Autêntica. Heidegger diz que uma
pessoa autêntica é solitária. Por mais que ela fosse, ainda conseguia achar
felicidade em outras pessoas, o problema era se apegar a essas pessoas e depois
elas desaparecerem. Ficou com medo de ser ela de novo, mas percebeu que aquilo
era consequência da vida. E que apenas os verdadeiros ficam. Os que não fingem
ser algo que não são.
Ela olhou para aquele cigarro entre seus dedos e pensou, não vou estragar essa paisagem com você,
e pegou seu maço, e colocou o final do cigarro dentro dele, apagando. Observou
aquele objeto e ficou pensando por quanto tempo aquilo foi seu “amigo” nas
piores horas, e percebeu a metáfora, existem coisas que fazem nos proporcionam
uma sensação de bem estar, mas acabam nos matando por dentro.
Esperou a fumaça terminar e colocou de novo no bolso da
jaqueta. Como iria fazer para voltar? E se iria fazer? Estava tão bom, vendo as
cores que o céu fazia naquela tarde, tons diferentes, como um Monet. Sorriu
pensando naquilo, refletiu sobre o Monet ter pintado aqueles quadros
exatamente para pessoas que não poderiam ver o que o mundo pode nos presentear.
E olhar pelo menos três segundos, e lembrar da beleza ao nosso redor. Maldição
são aqueles que não admiram e dizem ser perca de “tempo”. Mas Adalaine sabia
que a arte ajudava mais que qualquer cigarro ou álcool do mundo.
(me desculpem pelo meses que fiquei sem postar)
Espero que tenham gostado!
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